Monday, February 26, 2007

Domingo em Maubara

Barraquinha de Tua Mutin na estrada de Maubara

Domingo em Maubara. Supostamente seria um dia numa praia diferente mas a chuva alterou-nos os planos e em vez disso passou-se o tempo à conversa no terraço da casa onde o pessoal estava a passar o FDS.

Maubara fica a cerca de 80 Km para este de Dili. Seguindo a estrada da costa, saimos de Dili, passamos por Dili Rock, spot de mergulho 5 estrelas, a seguir pela baia de Tibar que é uma reentrância gigante na linha de costa, sitio de pescadores e de salinas, o pôr do sol é um espectáculo visto do topo de do monte que pronunciado sobre a costa, marca a entrada da baia. A seguir passamos por Liquiça, terra de casas coloridas e mais à frente chega-se a Maubara.

Por pouco não passámos por Maubara sem parar... é que Maubara como muitas das aldeias e vilas de Timor Leste, é um grupo de casas dispersas ao longo da estrada principal e com muita facilidade passamos pelos sitios sem dár por eles... Uma igreja ou uma escola são normalmente os marcos que identificam para os estrangeiros as localidades. Neste caso identificámos vagamente a “pousada azul” à direita e mais à frente o descampado à esquerda...” deve ser isto”.

Lembro-me da primeira vez que fui a Natarbora sozinho aconteceu a mesma situação, com a agravante que eu ia para a escola agrícola que ficava afastada da estrada principal. Só quando dei comigo num caminho muito TT que entrava pela ribeira dentro e que me haviam dito que seria o caminho mais curto, mas também mais “hardcore” para chegar a Viqueque... “e agora?!? Inverter num caminho com onde só passa um carro e com capim de 3 metros de altura...”.

Voltando para trás lá começo a perguntar como chegar à escola... em Português... em Inglês... por mímica... qualquer coisa que me faça lá chegar!! A duvida só se dissipa quando chegamos lá. Seguindo indicações orais e gestuais, os metros fazem-se quilómetros, as esquerdas, direitas, as estradas, carreiros... Não há indicações, não há rede de telemóvel, nem electricidade... Alias em Natarbora nem há nada.

Em Maubara também não há rede de telemóvel e por isso seguimos a costa para ver se encontramos o pessoal que deve estar a fazer praia... mas está a começar a chover forte... será que ainda andam em banhos? Por cá não se foge aos primeiros pinguinhos de chuva... pode ser que passe rápido... e logo a seguir costuma vir calor. Se estamos na água não será por nos molhar-mos... Mas agora já estamos em plena época das chuvas e em poucos segundos uma chuvinha transforma-se numa torrencial que deixa tudo e todos que nem pintos.

Passamos as praias e a estrada começa a serpentear e a subir. Já vamos entrar na montanha. Para aqui já não estão.

Na volta parámos numa curva para tirar mais um magnifico frame paisagístico de Timor. Sorte das sortes, vimos lá ao fundo, em baixo na praia 5 Malai a andar. Eram eles.

No regresso a casa parámos numa barraquinha para beber Tua Mutin.
Essa bebida de que já ouvi falar milhares de vezes... e sempre mal... com classificações como “intragável”, “de vomitar” e “nojento” nunca tive grande curiosidade de a provar.

A Tua Mutin e considerada a bebida nacional de Timor Leste. É extraída directamente da palmeira e bebida crua ou destilada faz uma aguardente que se chama Tua Sabu. Existem dois tipo de Tua crua dependendo do tipo de palmeira.

Na copa da arvore, no coração dão um golpe que faz sair a seiva da palmeira, depois instalam uma cana de bambu que faz de caleira e agarram da extremidade uma garrafa ou um garrafão de 25 litros. Durante um dia inteiro a seiva escorre para o recipiente. Depois de recolhido o liquido deve ser bebido até ao dia seguinte por causa da fermentação que lhe dá o teor alcoólico, a Tua Mutin estragasse muito depressa por causa dessa mesma fermentação.

Serviram-me um copo. Os conselhos iam desde “não cheires” a “bebe de pénalti para não vomitares”, “o que custa é o primeiro!”, quando falei disto ao meu colaborador, o Carion, ele riu-se e exclamou: “ Sim, gosto, mas ao principio é bastante dificil...”

Bebi um golo generoso... infelizmente cheirei antes... controlei-me para não cuspir aquilo tudo à frente dos timorenses... e engoli. Arrrrrrrgh!!! Que mau! O Ron, um americano que estava conosco, viveu dois anos em Maubara inserido na comunidade local quando trabalhou para a PeaceCorps, explicava o ritual e mostra uma tacinha que tinha uns legumes dentro. “Deve-se comer um pouco disto entre os copos de Tua... para não beber tanto!”. O Gonçalo fez a asneira de provar... era Ai Manas uma mistura de legumes refugados em que o principal ingrediente são as ditas Ai Manas – Malaguetas super picantes!! É muito usado cá na culinária. Escusado será dizer que ficou com a boca a arder! E a Tua Mutin já tinha acabado! "Não beber tanto ?!? qual é a lógica?!?". Curiosidade a quanto obrigas...

A Tua tem um teor de álcool de cerca de 5º, é como uma cerveja, e (para quem aprecia) é coisa para ser bebida á litradas durante o dia inteiro!! Daí os garrafões de cinco litros à venda à beira da estrada. Seguindo a máxima - "Antes faça mal do que se estrague", há timorenses que passam o tempo a beber Tua e a ver a vida passar, devagariiiiinho...

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Este mapa dá para ir mantendo a perspectiva da Globalidade do assunto... Sim... eu sei que a mancha é grande e até parece muito... Mas aqui as manchas maiores equivalem a Macau + Hongkong = China; Nordeste = Brasil; Califórnia + New York = USA, e assim até parece que já estive no Alaska, no Bornéu, na Papua Nova-Guiné, etc... Ui que vistaço!!! create your own visited country map