Friday, March 16, 2007

Safest house in Dili

Encontrei anunciado num jornal local esta bela casinha que me fez voltar atrás no tempo, um ano para ser exacto.
Deixem-me então contar-vos uma história sobre a “safest house in Dili”.

Conheci esta casa em Março de 2006.

O senhor X, que eu conhecia pessoalmente, nela viveu feliz e despreocupado durante um par de meses... Alugou-a na perspectiva de fazer vida em Timor Leste durante uns de anos mas teve o azar de apanhar logo em finais de Abril a tão pomposamente chamada “guerra” que aconteceu em Timor Leste por esta altura.
Dá-se a invasão Australiana com todo um arsenal digno de uma “operação tempestade” e um dos locais que estas criaturas ocupam é o antigo heliporto que fica mesmo em frente da humilde morada.

Durante uns tempos, o Sr. X e nós, deleitámo-nos com as actividades bélicas australianas, admirados mais pelo descabimento que pela exibição do arsenal a entrar e sair, por terra e por ar... para cima, para baixo, ao som do contrabaixo, no cenário perfeito para brincar aos soldadinhos de chumbo.

Ao fim de um mês e picos de invasão, o senhor X vê-se na circunstancia de regressar a Portugal por questões profissionais, mas como pretende voltar, deixa a casa “funcional”, com guarda e empregada, e pede ao senhor Y para tomar conta do assunto enquanto se ausenta.
O Y por ser era um homem ocupado... não tinha propriamente muito tempo para andar a controlar as actividades da casa e por isso a sua supervisão resumiu-se a pagar os empregados e passar por lá de vez em quando para ver se a casa ainda tinha as peças todas...

Homem de meia idade, sério e trabalhador. O senhor Y é um personagem pacato, bom amigo, senhor regrado, apreciador de horários e cumpridor da rotina. Já teve o seu quinhão de vida agitada, de sortes e azares, e veio para Timor a perspectivar uma estadia a longo prazo – 10 anos! Diz ele, a planear que a família se junte no território do crocodilo.

Se bem se lembram a guerra precipitasse quando os militares peticionário, sentido-se descriminados dentro das forças armadas e resolvem entrar num braço de ferro com o Mari Alkatiri, então primeiro ministro.
Ora o Alka não é homem de se deixar intimidar e como não cede, estoira o cenário nacional! Com a fragilidade crescente dos órgãos de soberania e a fragmentação da opinião pública, a apoteose da cena dá-se quando a policia e o exército desta abençoada nação, resolvem transformar as ruas da cidade de Dili em cenário de guerra urbana e passam uma semana a jogar ao gato e ao rato – Resultado, a policia e o exercito são “suspensos” e instalasse o caos na cidade quando as milícias- os chamados grupos de artes marciais- vêem na ausência da autoridade, um terreno fértil para espalhar o terror.

Para acalmar os ânimos apareceu atrasado o Sr. Xanana a pôr paninhos quentes aqui e ali, em comunicados em directo que tentavam devolver à população a confiança perdida, com apelos de retorno à cidade e à vida normal... tarde piou, pois àquelas horas metade da população da cidade já se encontrava espalhada entre as casas da família na montanha e os poucos locais que consideram seguros e que mais tarde se tornaram nos “campos de deslocados”.

Passam-se uns dias, umas semanas... e a instabilidade a roer os nervos daqueles, que como nós, resolveram ficar em Timor, a tentar continuar com a dita “vida normal”... ao fim de certo tempo já todos ansiava-mos pela chegada dos Autrálias! Queriamos muito os nosso géninhas... mas tardaram... É clássico do nosso país – Plano de emergência com elementos “sempre a postos” que demoram um mês a chegar ao local ?!?... Treta...
E assim foi! A chegada dos bifes foi a festa da cidade, o rejubilar das massas!!... por uns dias... Até toda a gente se aperceber o quão desadequados estavam para o cenário de quase-guerrilha-urbana, começarem a questionar a eficiência dos BBQ’s e a pensar qual a verdadeira função desta força no território.

No país da desinformação, vivemos momentos muito ricos em conversa de café...

Deste cenário pseudo-caótico de gente evacuada, gente deslocada, políticos a ganir, igreja a gemer, sempre generosa, militares indignados, militares revoltosos, os Austrálias a levar por tabela sem saber ler nem escrever, e nós a beber café no Hotel Timor a tentar apanhar as ultimas, surge o “herói” da nação, o revoltoso Major Alfredo Reinado.
Apresenta-se como o salvador da pátria num misto de Robin dos bosques com laivos piroso-vaidosos de Mitch do Baywatch e uma pitada q.b. de Rambo das Ásias. Embora procurado pelas autoridades aparecia sempre acompanhado pelas tropas Australianas e pousava em grande estilo em frente de edifícios bem conhecidos - sempre de arma em riste a dizer, “comigo não fazer farinha!”.
Símbolo da contestação dos militares, á semelhança do que está a fazer agora, este senhor tentou uma espécie de "via do diálogo" com diversas entidades, mas não teve sucesso... o que pede não é plausível, no cenário político da altura bem como no actual, e assim continuou procurado pela justiça.

Retomando o dia pacato do senhor Y. Um dia de Julho, provavelmente um dia quente... quente e húmido, não estivéssemos nós nos trópicos húmidos. Entre os afazeres que o mantém ocupado, encaixa uma passagem pela casinha, só para ver se está tudo nos conformes...

Estaciona em frente. Entra e mete a chave à porta. Estranha vozes dentro da casa e avança curioso. Vê armas na cozinha... e munições em cima da cama do Sr X. Depara com uma série de soldados dentro da casa. Não dando tempo à sua reacção, sai da casa, mete-se no carro e vai directo ao quartel da GNR.

Nesse dia prendem o Major Reinado. No dia seguinte o senhor Y mete-se num avião de volta a Portugal.


Aparentemente o Major e a sua maltosa havia “ocupado” não uma, nem duas, mas sim três casas mesmo em frente do heliporto. Mesmo por baixo das barbas dos Austrálias - Do quartel general dos BBQ’s!! Curioso não?...

O que nos leva a pensar... “Opposite Heliport - Safest house in Dili” ?!? hum, I wonder…

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Este mapa dá para ir mantendo a perspectiva da Globalidade do assunto... Sim... eu sei que a mancha é grande e até parece muito... Mas aqui as manchas maiores equivalem a Macau + Hongkong = China; Nordeste = Brasil; Califórnia + New York = USA, e assim até parece que já estive no Alaska, no Bornéu, na Papua Nova-Guiné, etc... Ui que vistaço!!! create your own visited country map